Ontem, 31 de outubro se comemorou o dia D, do nascimento do grande poeta, Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira, que deixou em muitos de seus poemas relatos do modo de ser um povo nascido entre as montanhas. Eu quero homenageá-lo com esse poema que lembra a minha infância, como tantos brasileiros que nasceram e criaram-se no campo, além das saudades, há muitas histórias para contar, muitas delas mais belas que a do Robinson Crusoé.
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
Poesia e Prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.
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