Até quando iremos ter meninos vivendo nas ruas das grandes cidades brasileiras?
Por coincidência ou não recebi um poema de nome Pivete, escrito por um amapaense e uma história real de um menino que viveu a experiência de se perder da família, abandonado nas ruas de São Paulo aos 02 anos, foi criado em orfanato e hoje é cantor de rap.
Contou sua história em uma letra de música, uma história como a de muitos meninos.
Quantas infâncias perdidas?
Quantos futuros incertos?
Acorda Brasil! Olhai suas criançinhas!
"1994 Viaduto Dr. Arnaldo, 02h00 da manhã.
Eu ainda estou acordado
Já é de madrugada eu avisto o céu sem estrela me dá mó revolta embaixo de tudo eu me sinto nessas horas estou com fome e frio pagando mó veneno eu preciso respirar que é pra ter coragem.
E lá vem a tempestade castigar e arrastar esta imensa cidade.
Só de lembrar o tempo que eu era alguma coisa para esta sociedade.
A vida me mostrou outra realidade depois que eu caí aqui, cadê o amor?
Onde estão meus aliados agora? Mano é embaçado, quantas palavras foram lançadas,
Quando ainda trampava...
Eu tinha boa grana, estou de olho como águia eu avisto de longe a minha quebrada.
Aqui neste lugar é um verdadeiro inferno, são pessoas que largaram seus familiares.
Na esperança de vencer aqui na Selva de Pedra
Pra que valeu todo esforço da diretoria? Eu não entendo, não compreendo.
Quantas famílias nesse momento dormindo ao relento com fome e frio
Aí acorda meu Brasil!
A minha vida não foi conto de fada,
Aos dois anos minha coroa tinha me deixado.
É Breakdown, pra tudo Deus tem um propósito irmão.
Que propósito é esse? Morar no interior, ser chamado de FEBEM!
O meu progresso na escola foi de mal a pior,
No dia da visita todas as crianças recebiam lembranças,
Papai Noel cansou de receber as minhas cartas com sinceros apelos:
Papai Noel, eu não quero nada desta vida,
Só quero encontrar meu pai, minha mãe, minha família,
Hoje a casa caiu!
Os menores foram para o quarto de um a um foram molestados.
Choro e chicote estralando mano, os anos se passando...
Tinha uma pá de Zé Povinho, que não gostavam de mim.
Uma história de dor, qual é seu nome?
Maldito é o homem que confia em outro homem. (2x)
Refrão:
Deus me ajuda lutar, pois minha mãe me deixou num mundo de dor.
Eu quero encontrar, eu quero encontrar. (2x)
Vamos lá, está tudo sobre o controle, apesar do meu nome ser arranjado por um juiz: M.A.D.S.
Foi como colocar nome em cachorro.
Fácil de mais para o sistema.
O que eles querem ver é mais um “negão” com algemas, prepara o seu coração.
07h30 da manhã, é hora do café. Meio dia, o sinal da sirene anuncia:
É hora da chepa, mó biqueira essa merenda, mó sol, daqui a pouco eles recolhem os menores.
Contam cabeça como gado:
Número 11, Aqui.
Número 15, Ali.
27, ainda não fugi.
Quanta injustiça eu sofri, presenciei, no centro de São Paulo, no vai e vem,
Eu era um filho das ruas.
Já fazia uma cota que eu saí da FEBEM.
Aí tio, minha visão não era pequena.
Eu confesso o descaso da humanidade:
Criança sem esperança, mulher com criança no colo e eu sentado só na sarjeta
Observando: um tiozinho na cadeira de roda, pedindo esmola muita calma nessas horas.
Você reclama da sua vida, mas não tem coragem de olhar a sua volta e ver:
Quantas chances Deus te deu...
Refrão:
Deus me ajuda lutar, pois minha mãe me deixou num mundo de dor.
Eu quero encontrar, eu quero encontrar. (2x)
Mãe, hoje eu tenho 30 anos, tenho dois filhos:
Michael e Noemi vivem perguntando cadê a vó?
Eu fico imaginando na madrugada de hoje, onde a senhora estaria mãe?
Sabe apesar de morar no orfanato dos dois aos dezoito, depois fui morar nas ruas,
Mas graças a Deus hoje estou vivão mãe, estou esperando sem rancor e com puro amor no coração, pois eu quero te encontrar mãe,
De braços abertos."
LETRA: Rapper Breakdown - Já é de Madrugada - Oficial (HD)
PIVETE
Defendo meu canto
Teu pranto
E o espanto ridículo de tantos
Por todos os lados
Os cantos
As partes
Parto e absorvo
O silêncio dos olhos
Das línguas
Das poesias cansadas!
Calço a dor
E percorrendo um chão abstrato
Descubro o universo em mim.
Sou mais um favelado
Na era do consumo
Sem estomago
Sem trapo
Sem teto.
Sou mais um pivete de rua
Sem escola
Sem infância
Sem futuro.
Marginalizado por um regime
Burguês e autoritário.
Sou mais um ser humano
Resíduos de uma espécie
Que tinha tudo pra dá certo
AUTOR: Pedro Henrique